A Razão Está Morta

sexta-feira, 13 de junho de 2008





Saio.

É de noite. Sinto-me bem, sinto-me livre. Sinto um bem-estar que já não sentia há tanto, tanto tempo..!

“Uivo prá lua, que vai tão alta…”

Sinto o vento quente a lamber-me a face. Sinto o suor a começar a colar a roupa ao corpo, uma gota solitária a escorrer-me pela espinha abaixo. Uma outra salta da minha testa para o chão que piso.

“Corro na rua, feito um pernalta…”

É irreal, parece um daqueles sonhos lúcidos. Apercebo-me disso, belisco-me, belisca-me, mas mantenho-me neste transe, sem vontade de acordar. Não quero que venha o sol, não quero abrir os olhos.

“Tanta a folia de liberdade, que nem o dia me dissuade…”

Para que serve o mundo exterior? Para quê aturar as merdas e os merdas que se passeiam e pavoneiam como se todo o mundo lhes pertencesse?

“Quero ser animal, velho cão sem bordão…”

Aqui, entre as nossas 4 ilógicas paredes, dentro deste santuário que é só meu e só teu ao mesmo tempo, sinto-me vivo, para quê procurar uma razão?

“A lamber triunfal, o caixão da razão…”

A razão está morta aqui. Fomos nós, fui eu, foste tu que a mataste. Não precisamos dela. Não preciso dela. Satisfeito, giro a chave. Uma, duas voltas.

Saio.

É de noite. Sinto-me bem, sinto-me livre.

A lua vai tão alta..!


(Para evitar confusões, explicito aqui que as frases entre aspas provêm inalteradas da letra da música "Caixão da Razão", interpretada pela banda "Mundo Cão" e escrita por Adolfo Luxuria Canibal da banda "Mão Morta". Obrigado pela inspiração!)